Murmurinho gostoso. Mexe-se. Arregala os olhos e suavemente os fecha, acompanhando o ruído local que inebria e conduz a uniformidade dos movimentos. Para. Olha-me. E cai embelecida em mais um movimento tentador. Um sobe e desce pesado, cansado, ligeiro, seqüenciado, doentil...
Hipácia. Deve ser este seu nome. Pagã. Pensativa. Torturo-me por seus pensamentos. E ela próxima, colada, pele alva, macia, cabelos castanhos, longos, pernas grossas, cintura fina, finíssima, olhos negros, vivos, atentos, sobrancelha séria, provocadora, boca pequena, seios pequenos e um jeito meigo de tocar os dedos sobre os objetos. Inevitavelmente eu a quis.
Maria. Melhor que este fosse seu nome. Como contou o poeta paraibano. “Desprovida de partículas de feiúra”. Clara, magra, pêlos castanhos, pernas inchadas, seios na dimensão da mão, cintura fina, finíssima... Molesta-me. Torna a mover-se à minha vista, ao meu deleite. Agarra o maquinário ferozmente. Chega a doer-me. Dor que se derrama na beleza daquela agitação, repetida ao meu gracejo. Não me custava imaginar que naquele instante ela pudesse unir-se a mim. Apenas naquele segundo que se eterniza e inevitavelmente atormenta-me. Penso nos amores que tive. Foram-me marcantes também. Algumas delas possuíam coxas grossas e qualidades mais; mas a primorosa cintura daquela criatura - fina ao extremo-, era sua apenas e parece-me inigualável.
Mais uma vez, a derradeira, mais ofegante que as demais, ela retoma aquela prática intolerável. Dura. Parece-me cansada. Preocupada somente em livrar-se daquele suplício lancinante. O barulho atroz estimula-me. Lascívia. A ela pesar. Tanto que tornou a mexer-se. Vira-se varrendo o assento com os cabelos, pondo-os de lado. Cerra os olhos e novamente me parece meditativa. Diz-me nenhuma palavra. Levanta-se. Deixa-me desolado naquela instrumentária vã.
Seu nome é incerto. Incerto também a esperança de vê-la outra vez, de apreciar seu desempenho único com o mesmo olhar atento de agora. Curti-a em cada pedacinho. Desassossega-me não conhecê-la por nome. Poderia ser qualquer um. Resolvo não mais dar importância a este detalhe. Pouco importa. Preocupações mais prazerosas como aquela cintura (finíssima) me tomam a cabeça. Aquele joelho exposto, aquela panturrilha malhada, aquela barriga sarada, aqueles pés cobertos, mas presumivelmente lindos.
Ela, mesmo suada, mesmo despida de maquiagens, era um artigo de pouca imitação no mercado. E vendo estas cenas “eu poderia ir ao fundo, do fundo, do fundo, à sua procura. Criar fácil, fácil, a moto-contínuo da noite pro dia em seu nome. Construir sete usinas usando a energia que provém” exclusivamente da lembrança daquela tarde curta, ínfima, que estive ao seu lado.
josé adil vieira júnior
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